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Universitário cria história em quadrinhos sobre ataques de ansiedade



Suor, taquicardia, sensação de sufocamento, medo neutralizante. Essas são algumas das características da crise de ansiedade. Com crescimento gradativo, a doença causa uma falsa previsão de que algo ruim vai acontecer e tem três níveis que, no modo mais grave, gera a Síndrome do Pânico. Segundo levantamento realizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2018, o Brasil tem a maior taxa de transtorno de ansiedade do mundo, onde 9,3% da população sofre de patologias relacionadas à condição, o que representa mais de 18 milhões de pessoas. Para falar sobre o problema e, ao mesmo tempo, concluir o Trabalho de Conclusão do Curso de Design Gráfico das Faculdades integradas Barros Melo (AESO), o universitário Petrus Andrade criou a história em quadrinhos “Neurose”, onde faz um descontraído autorretrato sobre as crises que vivencia, trazendo o dia a dia de quem sofre com a situação.

AESO- Por qual motivo você resolveu criar a “Neurose” e, através dela, contar sobre as suas crises de ansiedade e pânico?
PA- Eu demorei para iniciar a criação do meu Projeto Integrador e, somado a isso, no ano passado, comecei a sofrer com ataques de ansiedade e pânico. O trabalho foi uma maneira de me expressar sobre meus problemas e, ao mesmo tempo, concluir essa etapa da minha formação. Para tornar o tema mais digerível, pensei no formato de HQ, pois, além de ser um veículo mais “descontraído”, vi que há uma lacuna no mercado de histórias em quadrinhos que tratassem deste tema.

AESO- Você teve inspirações na criação desse trabalho? Quais?
PA- Minha primeira inspiração foi a banda The White Stripes. No início do curso de Design Gráfico, tive uma aula de estética, com o professor Diego Carreiro. Ele falou o quanto as cores vermelha, branca e preta eram importantes para o grupo e toda a mitologia presente nos trabalhos. O vocalista, Jack White, achava que essas eram as combinações de cores mais fortes possíveis e que causava uma ressonância tremenda com o público. Minha segunda maior inspiração foram os jogos para vídeo games da saga Shin Megami Tensei, de uma empresa japonesa. Eu sou super fã de misticismo/ocultismo e, nestes games, eles utilizam exatamente isso para contar as histórias com personagens que vão de Deuses a entidades de várias religiões. Também utilizei muito da semiótica, cadeira trabalhada na AESO-Barros Melo durante o curso.

AESO- Em qual universo acontece a Neurose?
PA- A HQ se passa quase que inteira no meu quarto, na minha cabeça. Depois de desmaiar em um show (fato verídico) acordo acorrentado em meu quarto com uma estranha criatura (fantasia). Este personagem representa a minha ansiedade. A história é uma mistura de fatos reais com elementos fantasiosos, uma jornada de autoconhecimento que mostra os problemas que a crise de ansiedade traz para o dia a dia de quem sofre com ela.

AESO- De que forma a ansiedade afeta você, quem está ao seu redor e como você conseguiu tornar o tema mais acessível?
PA – É um tipo de emoção inerente do ser humano. O frio na barriga ao falar em público, a espera insuportável pela mercadoria comprada da internet, a saudade de alguém que se ama. Ela também funciona como um reflexo do corpo, que age independente do nosso pensamento racional, preparando-o para fugir ou lutar em uma situação de perigo. Para muitas pessoas, entretanto, a ansiedade representa um sentimento de medo, angústia e desconforto em relação a algo desconhecido e sem risco real. Considerada um transtorno mental, a ansiedade acomete 33% da população mundial, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Por ser uma patologia que não oferece risco de vida e não apresenta sintomas externos no corpo, este problema pode passar, muitas vezes, despercebido para as outras pessoas. A falta de conhecimento e negação sobre o assunto mascaram uma situação que afeta milhões em todo o planeta. Na criação da HQ, foquei na introdução de elementos fictícios, o que ajudou bastante a manter o leitor engajado na leitura. Um pouco de comédia e autocrítica também contribuíram para esse efeito. Eu não queria que meu trabalho fosse um panfleto sobre a ansiedade, mas sim, uma HQ genuína, que pudesse estar no meio de histórias como a da Marvel e da DC Comi

AESO- Como foram as escolhas das ilustrações, linguagem, tipografia, formato e veiculação?
PA- As ilustrações vieram de um fato engraçado: eu não sei desenhar. Então, tive que procurar uma alternativa. A mistura de fotos reais com efeitos foi a melhor opção. Como eu queria contar uma história pessoal, utilizei fotos de mim mesmo e do meu quarto, além de registros de sites gratuitos de compartilhamento. Apliquei a linguagem informal para me aproximar dos leitores, com palavrões e gírias nordestinas. A tipografia foi a tradicional dos quadrinhos, escolhi a fonte criada pelo professor Lula Borges por conter todos os caracteres necessários. O formato da HQ é o tradicional americano, optei por um modelo mais universal para se aproximar das HQs da Marvel e da DC. Para a veiculação, pensei no método digital (gratuito) e impresso.

AESO- O seu trabalho pode ajudar, de alguma forma, as pessoas que sofrem com crises de ansiedade?
PA- Sim. Acho que mostrar a situação para o público pode facilitar a identificação da patologia em outras pessoas. Um problema que parece ser pequeno para você, pode ser grande para outro, esta foi a mensagem que queria passar. A falta de conhecimento muitas vezes faz as pessoas pensarem que essa condição é apenas preguiça, corpo mole ou invenção da cabeça de quem sente. Além disso, por experiência própria, sei que é muito difícil falar sobre o assunto quando está acontecendo com você. Apesar de difícil, acredito que a conversa seja o melhor caminho para o tratamento, sendo assim, a história em quadrinhos também é uma maneira de estimular o diálogo e compartilhamento de ideias e soluções.


Baixe no Link abaixo o Quadrinho Neurose

HQ Neurose

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