O desafio da voz: produtores pernambucanos de animação enfrentam desafios para criar diálogos
Eles não são apenas os donos da voz. Mais do que emocionar com entonações, sussuros e gritos, dubladores profissionais têm status de celebridade. A prova é que as duas grandes atrações da edição 2015 do Omakê Recife, evento de culturas pop e geek marcado para hoje e amanhã, são Luciano Monteiro e Leonardo Camillo. O primeiro dubla Finn, de Hora de aventura. O segundo, Ikki, de Os Cavaleiros do Zodíaco, Mestre Shifu, de Kung Fu Panda, além do protagonista de Barney e seus amigos.
Camillo ainda é a voz de Bruce Willis, Kevin Costner, Nicolas Cage, só para citar alguns dos atores que representou em 37 anos de carreira. O carioca começou como ator no Recife. “Não existe dublador. A profissão é de ator. Comecei como ator aqui em Pernambuco, no Teatro do Parque. Depois fiz programetes na TV Universitária”, lembra. O pai militar levou a família para São Paulo e lá Camillo fez os primeiros trabalhos como dublador.
O eixo Rio-São Paulo é o mais importante no mercado nacional e sedia as maiores empresas do país como Herbert Richers e BKS, ex-AIC - um dos primeiros estúdios brasileiros, criado em 1962 após decreto de Jânio Quadros determinando que todos os filmes transmitidos pela TV deveriam ser dublados.
Em Pernambuco, apesar da efervescência do mercado cinematográfico e de animação, não há estúdios de dublagem e os produtores encontram dificuldades para lançar filmes com falas. A maioria opta por narrações ou trilhas apenas, como Deixe Diana em paz, de Júlio Cavani, Voltage, de William Paiva, e Dia estrelado, de Nara Normande.
“Os custos aumentam razoavelmente, porque incluem contratação de atores e da equipe para dirigi-los. Tem também o trabalho de edição de áudio. E, para fazer o personagem que fala, demanda mais tempo, o que também aumenta o custo”, conta William Paiva, do Studio Bam, da Faculdade Aeso Barros Melo, um dos núcleos de animação no estado. Paiva dirigiu três animações. Apenas O Homem-Planta, com vozes do cantor Jr. Black, tem falas - é o único do estúdio. Outro raro exemplo é Salu e o cavalo marinho, de Cecília da Fonte.
Grande sucesso animado pernambucano, Bita e os animais conta apenas com trilha e efeitos sonoros. A versão em curta-metragem, em fase de finalização, terá vozes, desenvolvidas em estúdio do Rio de Janeiro. “A gravação dessas vozes foi feita fora do Recife por vários motivos. Não encontrei ninguém específico que fizesse direção de casting e fiquei com receio em relação ao sotaque”, conta Felipe Almeida, da produtora Mr. Plot.