Matheus Mota disponibiliza novo álbum na internet e revela significado de Almejão
Depois de ver seu último álbum, Desenho, saltar aos olhos da crítica em 2012, o jovem músico pernambucano Matheus Mota lançou esta semana o mais novo disco, intitulado Almejão. Disponível na internet, através do Souncloud, desde a última segunda-feira, o disco traz doze faixas autorais gravadas em colaboração com amigos da faculdade de Publicidade, mesclando linguagens populares e eruditas. Os ritmos vão do chorinho aos jingles publicitários, com participações especiais de Luciano Emerson (clarinete, saxofones), Fred Lyra (guitarra) e o que Matheus chama de "Royal Derby Orchestra", um grupo de câmara imaginário localizado no bairro central do Derby, onde o músico vive.
Perguntado sobre as razões do nome Almejão, Matheus explica: "É uma brincadeira que um amigo fez, em 2010, quando eu estava recém formado em comunicação e trabalhando como freelancers em São Paulo. No nosso grupo, usavam muito as expressões 'almejar', 'desalmejar'. E 'almejão' seria a pessoa que utiliza muito isso. Eu achei uma palavra ridícula, porém com sentido. Significava que nem sempre é preciso ser bom ou receber indicações, mas ter contatos e 'almejações'. Usei dessa filosofia pra compor e arranjar o disco da melhor maneira, visto que nao sou formado em musica mas busquei conhecimento e bons contatos."
Desde seu primeiro EP, Volta ao mundo de bicicleta, Matheus sente que tem amadurecido em questões técnicas e pessoais. Ele ressalta a melhor qualidade de gravação e produção do projeto atual em entrevista ao Viver, na qual comenta sobre suas inspirações, planos futuros e o contexto que considera perfeito para que o público aprecie seu som.
Confira:
Qual a evolução sentida entre o seu álbum anterior, Desenho, e Almejão?
Eu diria que a principal evolução foi na qualidade da gravação e produção. É um disco gravado principalmente em casa (exceto as vozes, que foram feitas no estudio da Faculdade Aeso)... Na finalização das mísicas também rolou uma evoluída. No mais, são discos diferentes no sentido de que oDesenho explora mais a polifonia e o atonalismo e o Almejão é mais tonal, tem uma roupagem com sopros.
Levou quanto tempo para o disco ficar pronto? E em que circunstâncias as músicas foram compostas? (Algo especial o inspirava?)
O disco foi feito em 1 ano e poucos meses. Foi um período meio conturbado, com muita coisa pra organizar, trabalho, banda. Mas eu estava numa fase de trabalho fixo, então consegui dedicar atenção ao projeto. As inspirações vinham de todas as maneiras, roubando minutos no trabalho enquanto o chefe não via, fazendo anotações aqui e ali enquanto caminhava na rua. Alguns temas foram feitos em São Paulo também, em períodos de humores variados.
Como aconteceram as composições?
Para Almejão, compus muita coisa inspirado em música livre. Eu tinha assistido a um workshop em São Paulo, de um grupo chamado Sol6, liderado pela saxofonista chamada Ingrid Laubrock. Eles compunham músicas e arranjos inteiros cantarolando na hora. Essa técnica dá uma certa organilidade à música. Existe um trabalho parecido no grupo Itiberê Orquestra Família, do baixista de Hermeto Pascoal. Isso me deu um norte legal, que de certa forma sempre usei nas minhas músicas, mas menos conscientemente.
Seu disco anterior foi listado entre os melhores discos de 2012. Há alguma pretensão semelhante com Almejão? Ou preferiu não se impor expectativas?
Eu confesso que a verdadeira expectativa desde fazer as músicas é me agradar. Eu também tenho um certo interesse em trazer ao público sonoridades pouco difundidas que, embora já existam, sinto que foram pouco exploradas de uma forma familiar e popular. De modo que é uma maneira de estimular escutas leigas e desenvolvê-las. Essas listas de melhores discos me alegram, mas nao são a meta. Torço pelo melhor!
Quais são os próximos planos para a divulgação de Almejão?
Por enquanto, divulgação virtual e possíveis vídeos. Estou em viagem e o Grupo Varal, que é a banda que me acompanhava, deu uma parada em maio. Não sei como vamos retomar essas atividades. Aguardo a boa vontade e apoio dos amigos, eu dependo um pouco disso.
Como tem sido a resposta do público?
Como estou em viagem, parei pouco pra realmente acompanhar as reações. Mas confesso que estou bem surpreso, acho que a galera gostou mais que o disco anterior.
Que nomes da música você considera que mais tenham influenciado seu trabalho, seu estilo?
Fundamentalmente Beatles, na coisa simples; Frank Zappa(americano) e Leo Masliah (uruguaio) na coisa da inventividade humorística que exploro em alguns momentos; Bela Bartok em melodias, possibilidades harmonicas... é o compositor ao qual mais me dediquei nos últimos 6 anos. E no brasil são diversos, gosto muito de Tim Maia, Zé Rodrix, Itamar Assumpção, Milton Nascimento e Hermeto Pascoal.
Se pudesse recomendar um contexto perfeito para que o público ouvisse seu álbum, qual seria?
Num domingo, comendo amendoim e um televisor com o domingão do faustão no mudo, e o disco tocando.
Você quis passar alguma mensgem com o álbum? Sua carreira musical tem alguma reflexão atrelada a ela, que você desejaria levar ao público?
Não sou muito ligado ao lance de passar uma mensagem... Eu gosto de descrever cenas que vejo e que vivi, ambientes e sensações. Não reflito muito além da escuta, levar isso a terceiros. Minha música está mais ligada à sinestesia e intuição. Mas assumo meu entorno urbano (resido no derby) e essa musica acaba sendo uma boa representação da cidade e de capitais em geral. Futuramente quero explorar outros ambientes e perspectivas também.
Se Matheus Mota não fosse músico, seria...
Essa pergunta é meio difícil, porque eu nunca soube bem o que queria ser. Quando terminei a escola, fiz vestibular para Publicidade e Engenharia Mecatrônica. Cheguei a passar no segundo também, mas tive muito medo de me matricular (risos). Certamente, seria um engenheiro de talento baixo, e cheio de trabalho. Tenho vontade de ser professor de comunicação, anseio por um mestrado.