Clipagens

Feitos para serem vistos e ouvidos



Artistas gráficos se adequaram com tranquilidade à era dos pequenos discos e seguem sendo importantes na formação da imagem de grandes artistas Marina Andrade mandrade@jc.com.br Pensar na embalagem de um produto cultural como o CD a partir do seu projeto gráfico permite traçar algumas relações entre o campo do design e a produção fonográfica. De acordo com o designer e produtor musical Leo Antunes, é inegável a importância da atuação dos designers na formação da imagem de grandes artistas na recente história da música. “Um disco hoje é bem mais abrangente que a tradicional caixinha com o CD dentro. E o design não está relacionado apenas a objetos físicos, mas também a desdobramentos como websites, cenários, figurinos e iluminação de shows. A tendência é conceber projetos de design para serem aplicados em todas essas possibilidades”, aponta. O jornalista Bruno Nogueira, que mantém o site sobre música Pop up! (www.popup.mus.br), acredita que a arte da capa ainda tem grande importância como a que tinha na década de 80 e 90, por exemplo. “A música também é uma forte experiência visual, então uma identidade que embale tudo que é ouvido sempre vai ser muito importante”. Em relação às mudanças por que passou e continua enfrentando a indústria fonográfica, o professor de design gráfico da Aeso - Barros Melo, Rafael Suárez acredita que os designers sentem uma certa nostalgia da época em que o vinil dominava as lojas. “O formato do vinil possibilitava maior espaço para produção e visualização. Por outro lado, a evolução gráfica e a variedade de materiais, assim como o barateamento nos custos, ao longo do tempo, contribuíram para movimentar esse campo de produção”, explica. Os avanços tecnológicos no campo do design têm possibilitado combinações infinitas entre recursos como aplicações especiais de tinta e brilho, cortes especiais, papéis e dobras diferenciados, entre outros. Um exemplo é o software de modelagem Rhinoceros, utilizado pelo designer gráfico, ilustrador, artista e videomaker Raul Luna, que está trabalhando nos discos de estreia de Tibério Azul e de A Banda de Joseph Tourton, para produzir uma ilustração através de gráficos gerados a partir da visualização das ondas sonoras, gerando um tipo de superfície abstrata. A criação foi encomendada para a capa do LP In the box, do Niedermeier & Whitehead. “Para quem se acostumou a comprar música nos anos 90, quando o compact disc era dominante, existe a importância da visualização da arte nesse formato. Isso explica também o revivalismo atual do vinil”, aponta. O que não pode faltar ao designer é estar conectado ao perfil do artista com quem trabalha, para que a parte gráfica traduza o que foi pensado a partir da música. “O designer cria uma obra de arte sobre outra obra de arte, então é preciso que as duas partes trabalhem juntas”, completa o professor Suárez. O designer Sebastião Cavalcante, que realizou o projeto gráfico do CD de estreia de Isaar, alerta que o profissional também precisa atentar para a aceitação do produto no mercado, para que haja desempenho satisfatório em vendas. A arte, então, deve ser interessante o suficiente para justificar a aquisição de um produto físico cujo fonograma na maioria das vezes pode ser obtido de forma gratuita. Para Nogueira, um dos passos fundamentais para todo artista é perceber que não está sozinho, que faz parte de um processo envolvendo diversos outros agentes, desde quem vende as cordas de guitarra até quem faz a capa do disco. “Quando existe essa consciência, o trabalho visual ganha uma dimensão muito maior. Mesmo quando se trata de uma audição online – seja no myspace ou num download de MP3 – as pessoas ainda vão ver primeiro e ouvir depois”, completa. De acordo com ele, um dos melhores exemplos é Valentina Trajano, capaz de criar uma sintonia entre uma cena inteira de música pernambucana, ao produzir capas para bandas como Nação Zumbi, Mundo Livre S/A, Siba e a Fuloresta, entre outros. Quanto ao espaço que os CD’s disputam com os downloads desenfreados de MP3 e de álbuns completos, Antunes aponta que o projeto gráfico tem hoje uma grande importância na consolidação de relações com públicos específicos. “O nicho do mercado fonográfico precisa de produtos bem elaborados e de grande identificação com o consumidor, mas nem todo produtor fonográfico percebe isso e acaba investindo apenas num projeto padrão”. O maior problema, de acordo com Luna, é que a própria indústria fonográfica não vai bem, o que compromete todas as etapas da produção de um disco.

voltar

Nós usamos cookies

Eles são usados para aprimorar a sua experiência. Ao fechar este banner ou continuar na página, você concorda com o uso de cookies.  Política de Cookies   Política de Privacidade.
Aceitar