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Coordenador interino de cinema se demite da Fundaj após anúncio de nova diretora



O jornalista e crítico Luiz Joaquim anunciou nesta terça-feira (31) o desligamento da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj). De acordo com ele, que fazia parte da instituição federal desde 2001 como programador de cinema ao lado do cineasta Kleber Mendonça Filho, a decisão foi embasada no desejo pessoal de seguir outros projetos profissionais. A Fundaj afirmou que não vai se posicionar. Em outubro do ano passado, Kleber também entregou o cargo de gestor do Cinema da Fundação e foi substituído por Luiz Joaquim de forma interina. Em janeiro de 2017, entretanto, foi anunciado que a jornalista e fotógrafa Ana Farache assumiria o cargo de forma definitiva.

A efetivação de Farache como gestora foi uma das razões que motivaram a demissão, apesar de não ter sido mencionada no texto. "Com a saída de Kleber, havia uma expectativa da minha parte para assumir o seu cargo. Quando isso não aconteceu, fiquei desestimulado. Ao mesmo tempo, houve o convite da AESO (Faculdades Integradas Barros Melo), para assumir a coordenação do curso de Cinema e Audiovisual, o qual aceitei", disse Joaquim ao Viver. A substituição foi controversa e levou a a elaboração, pela Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine), de um abaixo-assinado pedindo que Luiz Joaquim assumisse a posição, que inclui cuidar da programação do Cinema da Fundação e do Cinema do Museu. O documento ressalta a contribuição dele como programador ao longo de uma década e meia e pede uma reavaliação da decisão tomada pela Fundação Joaquim Nabuco e pelo Ministério da Educação, ao qual o órgão é vinculado.

O diretor de Aquarius também se pronunciou sobre a decisão da Fundaj, criticando a indicação de Ana Farache. Em nota divulgada nas redes sociais, Kleber afirmou que um dos objetivos da sua saída da Fundaj era a promoção de Luiz, o que não ocorreu. "Nesses anos, eu sempre tive Luiz como um colaborador de primeira grandeza sem nunca me impor como chefe ou exigir hierarquias, mas oficialmente ela existia. Com a minha saída, ele deve passar a ocupar o meu lugar, natural e justamente. Luiz é não apenas uma pessoa de cinema, mas um servidor exemplar em cargo comissionado que dá orgulho ao serviço público, já proficiente nas peculiaridades dessa instituição federal. Ele deve ser estimulado pois o trabalho realizado no Cinema da Fundação foi todo construído no amor pelo próprio cinema", diz o texto.

Ao Viver, o presidente da instituição Luiz Otávio justifica a escolha afirmando que conta com a sensibilidade de Ana Farache para dar prosseguimento ao programa institucional da Fundação. "Ela é uma pessoa competente, ligada à área. Luiz Joaquim é da casa, fez escola com Kleber e tem contribuído muito. Vamos fortalecer as atividades ligadas ao cinema. Já temos um convênio de cooperação com o cinema francês por meio do Festival Varilux e quereremos conversar com o cônsul da Itália e com o Instituto Cervantes". A jornalista disse ter ficado contente e honrada com o convite: "O cinema teve sua história construída e consolidada, principalmente, pela sensibilidade e competência de Kleber Mendonça Filho. Fico também contente em contar, neste meu novo desafio, com uma equipe tão eficiente e, em especial, com Luiz Joaquim. O que desejo ao me juntar a ela é contribuir para que o Cinema da Fundação continue sendo este espaço agregador que não apenas exibe filmes, mas que promove reflexões".

Na carta aberta que anuncia o desligamento do cargo, Luiz Joaquim agradece à gestão pelos anos de trabalho e dirige um agradecimento especial a Kleber, "que não era apenas um colega na Fundaj, mas um irmão com quem aprendi no período em que crescemos profissionalmente e no amor pelo cinema". Ele também fala sobre a contribuição das salas de cinema da Fundação: "Importante registrar que o êxito e o benefício do Cinema da Fundação à sociedade não devem ser mensurados apenas por números. Desde o início fazendo parte de um cenário proficiente na criação cinematográfica, que projetou o cinema feito em Pernambuco para o mundo, o espaço da Fundaj foi personagem ativo nesse desenvolvimento como local de formação para realizadores. Guardo comigo uma particular satisfação por saber que contribuí, nos últimos 16 anos, ajudando na moldura dessa realidade".

 

Confira a carta na íntegra:

Carta aberta.

 

Recife, 31 de janeiro de 2017.

Venho, por meio desta, anunciar meu desligamento da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj). A decisão é pessoal e chega neste momento pelo particular desejo de me lançar a novos desafios profissionais.

Deixo a instituição federal com a convicção de que ofereci o melhor de meus esforços para disponibilizar ao bem público e à população, que é sua usuária e beneficiária em primeira instância, um serviço dedicado, adequado e, por que não dizer, amoroso com a função que me foi confiada em abril de 2001.

Cheguei à Fundaj em 1998 como estagiário para atuar numa coordenação que ainda estava em gestação. Na avaliação, fui entrevistado por servidores da casa, como Moacir dos Anjos (então coordenador e curador de Artes Visuais) e Silvana Meireles (diretora do então Instituto de Cultura da Fundaj), para assessorar Kleber Mendonça Filho, com quem já mantinha, há cerca de um ano, uma relação amigável com a afinidade própria de dois cinéfilos.

Em 2001, ainda no governo Fernando Henrique Cardoso e já atuando como profissional do jornalismo, fui convidado por Silvana Meireles a dividir com Kleber Mendonça o mesmo cargo de coordenador do Cinema da Fundação. Entre outros objetivos, Silvana desejava um interlocutor para Kleber na construção do conceito curatorial do cinema como também para dividir as funções administrativas.

Naquele 2001, o Cinema da Fundação, na unidade do Derby, estava com pouco mais de dois anos de seu funcionamento desde sua inauguração. Conquistando aos poucos o seu espaço no Recife, mas com segurança, a sala do Derby fizera em 2000 um público anual de 23.744 pagantes. Já ao final de 2001, a contabilidade anual foi de 48.043 espectadores. Em termos percentuais, o espaço havia aumentado o seu fluxo de freqüentadores em 100,023% em relação ao ano anterior.

Não havia segredo para explicar esse resultado. Havia o acerto de um trabalho dedicado realizado por uma pequena equipe com a junção de dois coordenadores afinados, resolutos e apaixonados pela ideia de transformar o Cinema da Fundação num lugar referencial em termo de qualidade técnica e programação cinematográfica.

Em 2005, no governo Luiz Inácio Lula da Silva, houve uma reestruturação geral no organograma de funções, no âmbito federal, que abarcou a Fundaj, disponibilizando um novo cargo e criando uma hierarquia na Coordenação de Cinema. A novidade beneficiava, com justiça, Kleber Mendonça mas, como já foi dito por ele próprio, ela [a hierarquia} existiu apenas oficialmente, nunca na prática.

Em dezembro de 2016, o Cinema da Fundação Joaquim Nabuco – já com duas salas, tendo a segunda sido inaugurada na unidade Casa Forte há apenas 17 meses, durante o governo Dilma Rousseff – atingiu o impressionante número total de 815.159 espectadores durante todo o período, até então, de seus 18 anos e sete meses em atividade.

Importante registrar que o êxito e o benefício do Cinema da Fundação à sociedade não devem ser mensurados apenas por números. Desde o início fazendo parte de um cenário proficiente na criação cinematográfica, que projetou o cinema feito em Pernambuco para o mundo, o espaço da Fundaj foi personagem ativo nesse desenvolvimento como local de formação para realizadores. Guardo comigo uma particular satisfação por saber que contribuí, nos últimos 16 anos, ajudando na moldura dessa realidade.

Quero agradecer ao presidente da Fundaj, Luiz Otávio Cavalcanti, com quem tive uma relação cordial, por confiar a mim a gestão interina da Coordenação do Cinema nos últimos três meses.

Encerro oferecendo meu maior agradecimento a minha equipe durante todos esses anos e, particularmente, à turma atual encabeçada pelas dedicadas Vera Cavalcanti, Paula Guerra, Rosy Silva, Selme Galvão e João Ferreira, assim como aos talentosos estagiários Juliana Soares Lima e Thiago Monteiro. Todos pilares sobre o qual se sustenta o Cinema da Fundação.

O especial agradecimento é a Kleber Mendonça Filho, que não era apenas um colega na Fundaj, mas um irmão com quem aprendi no período em que crescemos profissionalmente e no amor pelo cinema.

Desejo sucesso à nova gestão do Cinema da Fundação Joaquim Nabuco, instituição que admiro.

Obrigado.

Luiz Joaquim

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