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Bill Lee realiza o sonho de se tornar cineasta



Um sonho de criança prestes a se realizar. É assim que tem sido os últimos meses da vida de Severino Ramos, desde que se matriculou, no início do ano, na primeira turma do Curso de Cinema das Faculdades Integradas Barros Melo - Aeso, em Olinda. A paixão pelo cinema, que ele adquiriu por volta dos nove anos, nunca foi deixada de lado. Mas só agora, aos 56 anos, é que este fã dos filmes de kung-fu, especialmente os estrelados pelo mitológico ator chinês Bruce Lee - de onde vem apelido de Bill Lee, como é conhecido pelos colegas -, vê que o sonho de se tornar cineasta fica mais próximo a cada dia.

Natural do município do Cabo de Santo Agostinho, na Região Metropolitana do Recife, Severino nunca esqueceu as sessões de cinema da infância, quando frequentava o Cinema Dicemper, no bairro da Destilaria. Até 1990, o bairro tinha uma destilaria pertencente ao Instituto do Álcool e do Açúcar (IAA), uma autarquia federal extinta pelo então presidente Fernando Collor de Mello. Poucos dias antes, a Embrafilme, que por mais de 20 anos havia sido o coração do cinema brasileiro, também havia sido desativada pelo governo federal. "Eu ajudava seu Amaro, o projecionista, a varrer a sala, depois fui bilheteiro e também ajudei a passar os filmes. Nessa época, eu entrava escondido na cabine e pegava os pedaços de fitas, com as imagens dos filmes que passavam no Dicemper", relembra o estudante.

Como muitos meninos do seu tempo, o pequeno Severino, que ainda não era conhecido por Bill Lee, levava os pedações de películas de celuloide e fazia um cimeminha particular em casa, onde exibia as imagens para aos amigos, às vezes até cobrando ingresso deles, na forma de um pacote de pipoca ou um chiclete. "Eu fazia o projetor com uma caixa de sapato, usando uma lâmpada com água, que se transformava em lente, e a luz do sol. Depois, aprendi a usar a lanterna para brincar à noite. Apesar de não haver movimento nas imagens, eu fazia com que elas se adiantassem por meio de um carretel e uma pequena manivela, que eu puxava quadro a quadro", conta Bill, que até hoje não deixou de engenhoso.

Já adolescente, ele manteve o fascínio por Bruce Lee, embora o ator já estivesse morto desde os tempos em que era criança. Além do forte impacto dos filmes A Fúria do Dragão, O Voo do Dragão, O Dragão Chinês e Operação: Dragão, todos estrelados pelo ator, Severino também foi tocado pelas artes marciais, especialmente o taekwondo, em que chegou a ser faixa preta. No começo da vida adulta, ele fez o caminho de muitos nordestinos: foi para São Paulo procurar emprego e melhorar de vida. Apesar de não ter ficado muito tempo por lá, ele aprendeu um ofício: técnico em serigrafia.

"Durante muito tempo fiz camisas de rock´n´roll para vender em lojas do Recife. Vendi até no April pro Rock", rememora Severino, que um dia desistiu da profissão e vendeu o que tinha para contar equipamentos de vídeo. De maneira autodidata e por meio de cursos na internet, ele diz que aprendeu o básico para se virar. Mas foi a prática, gravando e editando aniversários e casamentos, que o ajudou no entendimento dos rudimentos da linguagem audiovisual. Depois, chegou a fazer um programa para um canal de TV do Piauí. Há alguns anos, começou a fazer vídeos sobre a comunidade de Paratibe, em Paulista, onde mora, que podem ser vistos no Youtube.

Seu último trabalho é a ficção experimental Catalepsia, que ele inscreveu para a próxima edição do Festival de Triunfo, já realizado depois da sua entrada na faculdade. "É um filme todo narrado pelo som, que também tem a participação dos atores Adriano Cabral e Cláudia Monteiro, e alguns colega do faculdade", explica. Por causa de sua história de amor ao cinema desde a infância, os colegas de turma já fizeram um documentário sobre ele: Bill Lee, o sonho de um garoto.

 

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