Artesanato na passarela
Sempre buscando a simbiose entre moda e artesanato, a passarela da 17ª edição da Feira Nacional de Negócios do Artesanato (Fenearte), no Centro de Convenções, leva ao público do evento grifes consagradas, estreantes e engajadas em projetos sociais, além de se transformar em vitrine para estudantes dos cursos de moda do Estado. Sob a curadoria da estilista e produtora Andréa Tom, serão oito dias de desfiles, cada um com 15 looks. O primeiro acontece hoje, a partir das 18h, e o último, no dia 16, penúltimo dia da feira.
Um dos pré-requisitos, que vale para todas as grifes, é a obrigação de inserir algum elemento com pegada artesanal na coleção, já que o objetivo é valorizar o resgate de técnicas artesanais e do feito à mão, para que a tradição não se perca no tempo e no apelo da manufatura. Para as faculdades, é necessário também seguir o tema da Fenearte, que se volta para o universo lúdico dos brinquedos populares.
A Faculdade Boa Viagem foi uma das que pegou o espírito da coisa e usou plástico e até paleta de picolé para criar uma boneca artesanal-futurista colorida e hiper criativa. Já a Faculdade Senac se inspirou nas dobraduras do cata-vento para dar vida a macacões com calças pantacourts com dobraduras cheias de movimento. Os personagens do circo serão os modelos da coleção da Aeso.
Voltada para o mercado, a grife Marie Mercié é focada na renda produzida de forma industrial e aplicada na roupa manualmente. “Há peças que levam cerca de 30 horas para serem feitas”, garante Andréa. E quem faz esse trabalho são as mulheres dos trabalhadores da fazenda da família de Mércia Moura, nome por trás da marca dos dois emes, com sede em Itambé. “Mércia faz um belo trabalho social, empoderando as mulheres da comunidade, dando-lhes cursos de corte, costura, modelagem e bordado e um emprego”, defende Andréa. Carro-chefe da grife, a renda é super trabalhada em peças delicadas, clássicas, mas sempre ligada na moda atual.
Recém-chegada ao mercado, a BrindA, assinada pela estilista estreante Amanda Brindeiro, tem como característica e inspiração a sustentabilidade. “Uso tecidos de diversos tipos doados por algumas empresas onde já trabalhei. Mas o meu foco é o algodão”, revela Amanda. As peças são tingidas naturalmente, e o toque diferente fica a cargo das linhas de crochê bordadas sobre elas. Quanto à modelagem, Amanda bate o pé mas não larga o conforto.
O resto ela deixa fluir. “Vou instintivamente montando a peça na hora, como se fosse um processo de moulage”, confessa a estilista, que se concentra nos vestidos feitos sob medida, invariavelmente amplos e com corte reto. Na cartela de cores, branco, preto, cinza e linhas em tons de flúor. Destaque para detalhes de trabalho manual feitos de crochê por Xuruca Pacheco.
A Tia Koka é como a Emília do Sítio do Pica-Pau Amarelo - uma boneca de pano que quer virar gente. A marca de bonecas de tecido de Socorro Leão, há 42 anos no mercado, assume apenas as iniciais em sua versão adulta. Apesar de maior de idade, a TK não podia deixar de ser inspirada no universo lúdico, e traz vestidinhos despojados 100% algodão com detalhes pintados a mão em forma de bambolês. “Queria entrar no mercado de moda e estou no 4º período da faculdade”, conta Socorro.
A Secretaria da Mulher de Pernambuco escolheu quatro grupos para desfilar suas produções. As peças em algodão cru e retalhos de jeans são desenvolvidas pelo grupo Arte da Terra, de Jaboatão. Já o crochê vai à praia de biquíni graças à Associação das Artesãs de Sítio Queimadas. Na Associação das Artesãs de Orobó, a moda nasceu da renda frivolité. E o patchwork inspirou a Rede de Mulheres Produtoras do Pajeú, de Afogados da Ingazeira. Esse ano, o catwalk ainda abriu espaço para as grifes que estavam incubadas no Marco Pernambucano da Moda.